Criolo, Preto, Azul ou Roxo,
tanto faz, contanto que fosse entre essas opções. Tinha certeza de ter fotofobia,
o branco me irrita as vistas. Aos quatorze descobri que branco engorda, decidi
não arriscar, pretinho básico não tem erro. Mas e agora aos trinta, não posso
casar de preto. Provo um vestido branco, e gosto, não gosto de gostar, mas
gosto.
Nunca liguei para minha
reputação, mas vão achar que bati com a cabeça se eu entrar de branco. Ficarei
gorda e terei que jogar fora todos os outros vestidos escolhidos a dedo, alguns
até costurados a mão. Porém, aquele vestido branco me caiu como uma luva, outro
não servirá.
Vamos comprar um labrador em
agosto. Feijão, esse é seu nome. Colocarei um porta-retrato dele com as
crianças ao lado da cama, assim ele não ficará triste por dormir no quintal. E
eu não ficarei triste por as crianças não gostarem da minha comida. Que
importa, eu tenho arroz e feijão, o simples sempre será o mais saboroso.
Vou tirar o vestido para
andar de bicicleta. Alguém me ensinou que azul-marinho é a cor mais linda. Aproveitarei para pedalar a noite, preciso aprender sobre as estrelas para
parecer interessante. Não posso esquecer os pães. Só eu sou apaixonada pelo meu
arroz e feijão. Ainda bem.
Ganhei um livro de receita de
sardinha, minha memória vive me deixando na mão. Semana que vem é nosso
aniversário. Ao menos eu inventei assim. Vou comemorar todos os dias para
ninguém perceber que esquecemos.