sexta-feira, 27 de abril de 2018

Tudo é Um

Ansiava adaptar-me, mas não sabia fazê-lo. Hoje sou um camaleão, porém sem vontade alguma de combinar. A vida agora tem cores pasteis, todas em tom bebê. O intenso azul parece aventura demais, opto pela companhia do nude. Opto por mim.

Eu, tão oito ou oitenta, contraditoriamente cultivo no morno a sensação de completude e me refugio neste conforto. É tão incrível poder ser eu mesma e me rodear de pessoas que se derretem com minha risada alta e que derretem meu sorriso lentamente.

Busquei incansavelmente a felicidade. Em minha amada loucura juvenil me jogava de corpo e alma em toda rua que me levasse ao destino traçado. E eu podia errar mil vezes, que eu retomava mil e uma, porque eu tinha certeza de onde estaria a felicidade.

Meus olhos foram trocados. Felicidade tem uma definição antes sem crédito comigo. Era simples demais para ser real, mas é e está ao alcance de todos, individualmente, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, dentro de cada olhar e do que se escolhe enxergar neste exato segundo.

Tudo que precisa de um porque, encontrou sua resposta. E tudo que não encontrou é porque não precisa. Sinto-me em paz com o que não depende de mim. Estou em harmonia com meu universo. Um caminho que nunca cogitei me encontrou e sou grata por este privilégio.

Alegrai-vos porque em toda parte é aqui e tudo é agora¹.


¹ Budismo

domingo, 15 de abril de 2018

Respiro

Um buraco foi aberto em algum dos nossos multiversos e um novo mundo aconteceu. A chuva cai de baixo para cima e isso não corresponde a detrás para frente, esse é o fluxo atual. Aqui tudo é do avesso. A amizade sobressai ao amor e família ganha um largo conceito. Bondade não diz mais respeito a caridade, mas a bem mútuo. Esqueça os velhos significados, o desconhecido pede espaço.

Tranquilidade, concórdia e seus semelhantes moram neste ar. Inspiro e expiro. É assim que se vive, certo?... Descansar também é respiro. E está no piscar lento com a brevidade do sono, no aconchego do abraço ainda não preciso, no bom dia amigo agora disponível. Absorvo e vento, brisa leve que vela teu sono de criança encontrada, no cafuné adiado, no limite não identificado.

Está na música do chuveiro, na dúvida de matar a dúvida, na certeza do presente e na alegria calma que somente o simples atrai. É alcançar sã uma sensação flutuante que apenas anos e anos de drogas propiciam. É entender na primeira pessoa o grito do cantor adormecido. É estar em paz com os acontecimentos e parar de brigar com o destino.

É quase não lembrar de quem você era antes de ser preenchida. Deve parecer muita loucura apaixonar-se pelo ar! Nada é tão óbvio quanto o agora, e a ele pertence todo o meu esforço. Estamos completos pela lei do retorno. Ele circula dentro de mim e por toda minha roda da vida, enquanto eu faço do inspira-lo e expira-lo meu propósito maior.

Bem-vindo ciclo bem-bem!

domingo, 8 de abril de 2018

Meu Pincel

Em Não Se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo Nelson Rodrigues nos ensina a poesia da dor, onde não há tristeza mais saborosa do que a de sofrer por amar, e que esta latência é inevitável aos amantes, pois o simples ato de amar é uma dor. Ao perceber que ambas emoções são dependentes, não importa mais se estamos amando ou sofrendo, são sinônimos, o importante é a existência de algo vivo e verdadeiro dentro de nós. Comemore!

Eu já exaltei as lágrimas, agora festejo as gargalhadas inoportunas. Como um feitiço, seu efeito é imediato. Viajo dentro do meu próprio sorriso, que se abre sozinho consumido pelo inimaginável pensado.

A janela está tomada por violetas. É lindo! Em um piscar sou arrebatada por um beija-flor treinado para encantar. E em apenas vinte minutos acordada, meu milésimo sorriso do dia já me visita. Nesta magia, até a Branca de Neve com os seus animaizinhos cantantes, perderam para nós. Se nos conhecesse, Walt Disney criaria sua mais mágica história, agora, aqui.

Por dentro é intenso como um vulcão, por fora é calmo como o assobiar dos pássaros. Uma mistura de turbilhão e parado, são opostos e simultâneos, abstrato e palpável, insano e no mesmo instante real.

Como quem visita um museu, sem pressa admiro seu retrato pendurado na parede dos meus pensamentos, releio suas cores e cada curva uma a uma, minha Gioconda venusta pintada descoberta, exposta para mim. O mais próximo que meus olhos encontraram da perfeição.

Eu não desejei, não pedi, não rezei. Não desejarei, não pedirei, mas farei uma reza. Que Deus me permita escolher esta exclusiva recordação para não ser esquecida.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Nosso

INÍCIO
1.1 Franzino, não apresentava perigo. De grande, via-se apenas seu amor pela própria imagem. E, o belo sorriso, que neste contexto, era apenas uma ferramenta a disfarçar seu jeito narciso.
2.1 Seu falar era irritante. Seu caminhar era irritante. E eu, que nunca havia encarado alguém mais implacável, deparei-me com sua insistente teimosia. Comprovando minha teoria: os semelhantes se atraem. E conflitam.

MEIO
1.2 Da noite para o dia expandiu-se como um balão. Causando aquele sorriso que só quem já viu de perto um balão inflar, sabe qual é. Aquele balão, aquele sorriso, aquela tarde de inverno ensolarada, e em um salto, sem volta me redefiniu.
3.1 Seu efeito foi uma tormenta. No mesmo instante minha kriptonita e meu satélite, meu veneno e minha cura. A origem ainda não diagnosticada da minha assistolia.
2.2 Seu falar era encantador. Seu caminhar era encantador. Morada do conflito. Não o deixaria saber. Então, como Donna é para Harvey, tornei-me seu porto seguro, com todas as palavras não ditas, com o abridor de latas existente e indefinido.

FIM
2.3 Enganados pelo subentendido, nos perdemos. O oculto venceu. E em um eclipse lunar, satélite e sol tocam-se duas vezes ao ano, presos voluntariamente, embora sem controle, a este ciclo.
3.2 Como grandes clássicos, são apreciados, mas não tocam mais nas dez melhores das FMs. Que seja respeitado o tempo de cada estrela. Não façamos do amor algo desonesto¹.


¹ Música L'Avventura - Renato Russo