sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Falecido

Adjetivo dado a quem vem a faltar. Mesmo que ainda viva. Ao menos essa é minha definição. Falecido é todo aquele que vive dentro de nós, mas que já não se encontra o sorriso.

Para os judeus, o luto dura nove meses. No manual de estatísticas a duração é de duas semanas. Não podem saber, nenhum deles fala formigues. E não importa se são quatro ou dezesseis quilômetros que separam dois corpos, o que determina o luto é não poder mais se dispor do outro.

A dor deve durar uma noite, nem mais e nem menos, uma noite. Vinte e nove amigas receberam esse conselho. Vou publica-lo com codinome Nola Devlin, será meu livro de cabeceira, e então poderei seguir cada conselho dado.

Há poucos meses estava eu com o carpete encharcado, agora a seca faz rachadura no solo, cicatrizes na alma. E não há o que fazer além de esperar que a natureza retome seu ciclo. Enquanto isso nenhuma gota, nenhuma lágrima, nada.

São quatro estações. Quatro fases da lua. Quatro elementos da natureza. E quatro é o trevo da sorte. A vida é composta de fases, plantar, regar, esperar e colher. É tempo de novo plantio, hora de preparar o solo com cuidado, para que no próximo ano tenhamos mais sorrisos.

Cataclisma

Enquanto eu viver não provarei mais da emoção de estar de ponta cabeça nos brinquedos do Playcenter. Logo após seu fechamento, pensava nisso todos os dias. E imaginava, meus filhos não sentiram a falta de ar que só um Evolution pode causar. Que bobagem! A frase “não existe um igual a cada esquina” é verdadeira, mas existem outros poucos bons parques. Quem sabe quando o frio passar eu até conheça a Disney. Além do mais, dizem que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade, talvez se eu me enganar possa achar a Florida quente.
Outra bobagem!

“José é doido por Maria, Maria é louca por João”. Quem diria que as músicas ouvidas quando criança nas oito horas de viajem no Chevette velho da velha caipira traria ensinamentos pra toda a vida. Quem me dera encontrar não só acalento, mas respostas nas voltas da bic azul na fita cassete. Mas não dá, joguei o rádio fora. E não existem mais deles. Falam que preciso me atualizar. Mas ouvi do meu melhor cantor que algumas pessoas passam a vida toda e não esquecem um amor. O que posso eu fazer?

Feliz mesmo foi o Michael, viveu e morreu, e não teve que ver seu parque virar nada. Ninguém merece a dor de viver depois disso. Sempre fui louca por tudo que me tira o ar. Viciada em esportes radicais. Mas nada era tão intenso como aquele Cataclisma. Ou tão doce como ser abraçada pela Montanha Encantada. Lá todas as emoções eram possíveis. Hoje, ainda é difícil de acreditar que encontrarei outro lugar assim. Rezo, para que o amanhã não demore a me modificar.

Não importa quão grande seja o coração, por dentro são formigas trabalhando. Lentamente. Por fora, posso trancar a porta e jogar no lixo o chaveiro do Splash. Por dentro, não tenho controle, as benditas formigas é que escolhem quanto tempo isso vai durar. E tudo que eu posso fazer é aprender a viver esse processo de modo que a saudade não me sufoque, que a saudade seja apenas um pensamento que vem e vai embora sem estragos.