sábado, 1 de julho de 2023

Ser amada

Queria ser amada. Amada mesmo, igual nos filmes de comédia romântica, ou aquele casal que conhecemos, e nunca somos nós. Queria aquele amor de adolescente, amor dedicado, que fica pensando em formas de fazer o outro feliz, amor que envia cartão postal com bilhete apaixonado atrás, que faz surpresa com o simples, e com uma caixa de bis nasce um montão de emoções.

Queria a ilusão do para sempre, do amor de outras vidas, da sensação de ter encontrado a pessoa feita para você e vice-versa. Queria sonhar. E ouvir "Eu te amo" todos os dias, sem economia, como fazíamos na juventude. Queria aliança de compromisso, com ursinho de coração e cartinha escrita à mão, com direito a desenho colorido. Queria caderno de perguntas respondido, para saber cada detalhe do meu grande amor.

É louco que os relacionamentos da adolescência tinham mais estabilidade e compromisso do que os da vida adulta, tão voláteis e frágeis. Falta amor. Fiz 38, e percebi que acabaram minhas fichas de amar e ser amada. Eu estou cansada demais (vejam meu texto anterior) para as desilusões. Tudo que eu posso oferecer para mim mesma é uma vida robótica, e uma busca por paz.

Bolo de fubá

A vida é uma sequência de sobe e desce, com algumas linhas retas lá embaixo, e ocasionalmente lá em cima. Vivo cansada, esse desce é para atletas, atletas emocionais. Eu tenho problemas cardíacos desde minha concepção, não aguenta um peido diria a atual geração.

Estou velha. Quero paz e chá quentinho. Nem gosto de chá, só da paz que lhe acompanha. Estou velha e ranzinza. Gosto de silêncio e ficar em casa. Estou tão tão velha, que já passei até da fase yoga e plantinhas. Invejo as senhorinhas jogando bingo as quartas-feiras na garagem aqui da rua. Queria jogar no bingo e viver o prazer de ganhar um bolo de fubá. Eita! Isso sim seria felicidade para mim.

Eu sou uma tonta, vivo em círculo, me abro, me dedico, me decepciono, e juro para mim mesma nunca mais me abrir. Passa seis meses, um ano, e cá estou eu de novo jurando nunca mais me abrir. Não é à toa que estou cansada.

Preciso de chá e paz quentinha. Daquela que parece uma manta quente no inverno e te faz esquecer que lá fora está frio. O inverno está infernal esse ano. Estou sempre vivendo a espera da primavera ou verão seguinte. Fugir do hoje tem sido minha tentativa. Hoje está ruim. Amanhã terão flores.

Amanhã também estará ruim, será um ruim com flores, ao menos poderei sentir o sol secar minhas lágrimas ao resmungar como estou velha, cansada e ranzinza. Dona Anesia poderia tranquilamente ser inspirada no meu humor.

Nada faz sentido. E eu tenho que ser forte. Saco!